sexta-feira, 28 de maio de 2010

Crítica do filme Alice in Wonderland

Precisamos crescer: quando entramos na escola, no secundário, e mais tarde na faculdade. Vamos aprendendo a ser adultos e, muitas vezes, precisamos repetir alguns ciclos, porque chegamos à conclusão de que os ciclos que vivemos antes não foram suficientes ou serviram apenas aqueles momentos. Crescer faz parte da condição humana e é a essência da história de Alice no País das Maravilhas.

Não é novidade que alguns dos grandes sucessos do cinema são adaptações de sucessos literários. Numa das últimas saídas em grupo do 2º período, tivemos a oportunidade de assistir a um desses casos: o novo filme da Disney, dirigido por Tim Burton, um dos maiores cineastas actuais, baseado no clássico “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll.

O ambiente era de grande expectativa e curiosidade, não só devido aos trailers disponíveis do filme, mas também pelo conhecimento do livro sobre a qual temos vindo a trabalhar ao longo deste ano lectivo.

Tal como no livro, a acção do filme desenrola-se em torno das aventuras da jovem Alice. No filme Alice surge, não como uma criança, mas como uma jovem com 19 anos, que vive em Londres, no final do século XIX, que por ter perdido o pai se vê na contingência de ter que aceitar um casamento acordado pela sua madrasta, o que a leva a entrar em pânico e, consequentemente, a fugir. Tal como tinha acontecido quando era criança. Durante a sua fuga, cai numa toca de um coelho, tendo a oportunidade de rever os seus amigos de infância: o Coelho Branco, Tweedledee e Tweedledum, a Ratazana, a Lagarta, o Gato Cheshire, e, claro, o Chapeleiro Louco. Alice embarca numa viagem para encontrar o seu verdadeiro destino e acabar com o reino de terror da Rainha Vermelha. Durante essa viagem, aprende a conhecer-se a si própria e adquirir auto-confiança para poder voltar à vida real. Alice está pronta a voltar ao seu mundo, quando se vê perante a ameaça de morte: ou mata ela ou é morta. Como quando precisamos de deixar coisas ou relações que nos fazem mal: ou nós as matamos ou são elas que nos matam.

Ao escrever o livro, Lewis Carroll dirigiu-se, acima de tudo, à imaginação do leitor. Tim Burton recorreu à sua própria "imaginação de leitor" e construiu as suas próprias personagens, dando ênfase à dimensão mais perturbante de toda a história: o absurdo e a loucura das personagens, num misto de ternura e loucura. No filme, os monstros têm coração; os loucos, lucidez. A Rainha Vermelha é má, porque sofre de solidão e pelo facto de negar a sua condição física. Os outros personagens nem têm esse tipo de problema – riem de si mesmo e das suas limitações. O cineasta deu-lhes vida, humanizou-os, garantindo-lhes uma força extraordinária, sendo essa, na minha opinião, a grande virtude do filme.

Estas personagens, por sua vez, movem-se num mundo que de maravilhoso pouco ou nada tem. Quase que seria mais apropriado o título do filme ser “Alice no País dos Horrores”… O País das Maravilhas, ou seja, o outro lado do espelho, não passa de um inferno, estranho, distorcido, que não foi feito para agradar. E isso é-nos transmitido em parte pela paisagem, que muitas vezes se mostra sinistra, e pelo céu, que aparece sempre muito cinzento. É um reino onde os “sonhos” são “pesadelos”.

A nível visual, o filme é simplesmente fascinante. A criatividade não tem limites, sendo-nos dadas inúmeras sequências extraordinárias, do ponto de vista estético e visual. O filme beneficia da utilização das tecnologias mais avançadas, imensos efeitos especiais e truques de produção, embora recorra pouco ao sistema 3D, o que pode ser uma desilusão para muitos, embora na minha opinião a racionalização da utilização da técnica seja benéfica não só porque a torna menos cansativa, mas também porque leva o espectador a focalizar-se e dar mais valor ao trabalho das personagens. Aliás, é engraçado reparar que o relevo chega a ser anulado, ou seja é feito "2D" dentro do "3D", quando os corpos dos actores são transformados em silhuetas planas. É divertido e, na minha opinião, inteligente!

Acompanhado por uma música marcante, embora não excepcional, o filme reflecte o mundo real naquilo que podemos classificar como uma mistura magistral entre um conto de fadas e uma história de terror. Transmite-nos uma mensagem quanto à “muiticidade” (muchness no original) que todos nós temos em crianças e que vamos perdendo à medida que vamos crescendo.

Quando volta a este mundo, Alice já não é a mesma jovem que fugiu: é outra que se ausentou pelo tempo necessário para ganhar maturidade e ser capaz de tomar uma decisão importante. É uma Alice que ouviu o que aqueles seres tinham a dizer e enfrentou os seus fantasmas: exactamente os mesmos que encontra no mundo real. Afinal o País das Maravilhas é habitado por seres que correspondem às pessoas da sua vida normal. Afinal o País das Maravilhas não é senão o seu próprio mundo interior. Conhece-se, é reconhecida e pode dar-se a conhecer: está pacificada. Por isso, volta confiante e pronta a enfrentar as consequências da sua decisão. No seu mundo interior, conseguira matar o monstro da Rainha Vermelha; no mundo exterior, a futura sogra perdeu a força com que subjugava Alice; e o pretendente, a sua noiva. A paz voltou ao País das Maravilhas. Alice tornou-se uma mulherzinha.

A mensagem adapta-se a todos nós. Perdemo-nos, muitas vezes sem perceber que o fazemos. Alguns, um dia por acaso, encontram-se. Recuperam essa ausência de temeridade infantil e a sua “muiticidade”: aprendem a enfrentar os seus medos, os seus inimigos e até a contrariar conselhos de amigos seus.

Neste aspecto o filme, mais adequado a adultos do que a crianças, é ideal para quem for de mente aberta e esteja disposto a se deixar maravilhar.


Sara de Albuquerque Simões

2009/2010

10º C – nº 21

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